CANÇÕES E LOUCURAS TECLADAS
Thiers R >
Disse a Blake
aterrisa homem
na porta louca
entra, digita
vagueia e enfurece
aterrisa
cruel a letra canta
em brisa brame
coalhada nos braços teus
destila agonia na cúpula celeste
ouve o tilintar das estrelas cadentes
martela desesperado teclado
vem, compõe outra canção louca
Aqui não faz frio é calor que sinto
entre suores pinga letra infame
pedindo sempre mais
um dedo, um copo
um não sei quê de desespero
um suspiro em retaguarda
uma loucura desmembrada
uivo que da caverna alucina horrores
grita à testa em dedos formatados
deste XP agora ativado
descobre a tumba acordada
outra louca canção digitada
control C
control V
entre logins e passwords
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4 comentários:
Thiers, não sei quando você compôs essa poesia, mas eu tenho cá por mim que talvez seja das melhores.Intensa, bem cadenciado,rica de idéias. Me impressionou!
"loucura desmembrada,
uivo que da caverna alucina horrores"
Essa passabem em particular arrebata! Mais como essa encontrei muitos outros achados, verdadeiros tesouros nesse seu escrito.
Parabéns! Você compôs um bela poesia, artistica!
escrevi a uns 5 meses. bgdus. Acho q td poeta tem moments and moments. Particularmente gst mto do poemas que escrevi para Baudelaire. Eu dialogo com tds os gdes poetas venenosos. tenho verdadeira mania de escrever pra eles. Um de meus youtubes fiz especialmente pra Rimbaud... dps mando pra vc.
Vlew cumpadi
ps. "Ouve o tilintar das estrelas cadentes"
Esse trecho é de dar inveja rs
Sua opção pelo verso curto - e não é só neste poema! - e pela ausência de conectivos entre algumas importantes palavras, criam a possibilidade de uma leitura vertiginosa e para baixo, sem "lateralidades", o que faz da forma uma parceira na estratégia da emissão da mensagem textual. É como se ela ajudasse a dizer que seus poemas devem ser lidos para dentro, mesmo quando se referencializam em outros poetas, como o faz "Canções ...".
Outra característica que observo em seus escritos, e aqui, de maneira peculiar, é a humanização de materiais até então de natureza precípua insensível, como a "porta que enlouquece", a "letra que canta", a "brisa que brame" etc. E neste seu poema-canção, agradou-me em particular observar a inserção de termos afeitos à linguagem da Informática, o que dá ares de contemporaneidade explícita aos seu versos, além de cristalizar sua proposta textual de um "blake" renovado e dialogando com o eu lírico.
Mais uma vez, tive o prazer de ler um texto seu.
Mauro Veras
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